Para algumas horas de repouso do corpo e do espírito, escolhi para tal a “Quinta da Comenda”, situada entre Viseu e São Pedro do Sul. O acolhimento e a calma desta “Quinta” justificaram plenamente a escolha.
A “Quinta da Comenda” tem a sua origem um pouco antes do início da construção de Portugal por Dom Afonso Henriques, que foi o primeiro rei deste território peninsular. Com o decorrer dos tempos as suas vastas terras foram diminuindo restando hoje uma bela área em redor da “Casa Mãe”, área essa que deve rondar os 35 hectares.
Sendo um local de Turismo Rural é, contudo, no cultivo de produtos biológicos que esta “Quinta” se especializou.
Mas uma bela surpresa me estava reservada. Numa conversa informal veio à baila um dos meus interesses que são os relógios de sol.
É nessa altura que o proprietário me diz que existe na “quinta” um relógio de sol que gostaria de me mostrar. É junto a uma agradável piscina que vamos encontrar esse relógio de sol construído em granito.
As marcas do tempo sugerem uma limpeza que juntamente com a sua classificação parecem ser os passos seguintes a dar, para que este relógio de sol possa ser visto com outros olhares, os da preservação e do conhecimento. É o resultado desse trabalho que se refere de seguida.
Tudo indica que este R.S. seja do século XVIII, início do século XIX. Neste bloco granítico estão reunidos dois Relógios de Sol, um Vertical Declinante orientado aproximadamente a SSE e um outro também Vertical Declinante orientado aproximadamente a SSW. As faces destes dois relógios fazem entre si um ângulo sólido de 120 graus. Os gnomons que seriam em ferro redondo já não existem, mas são bem visíveis os locais de implantação. A decoração deste Relógio de Sol é bonita e sóbria. Uma figura de Anjo serve de apoio e base deste conjunto de Relógios de Sol que indicam “Horas Solares”.

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P.S.- Um agradecimento, se impõe, aos proprietários da Quinta da Comenda não só pelo cuidado de preservar o Património, mas também por me terem proporcionado trabalhar neste “restauro” e classificação de um belo R.S. de construção não muito usual.

Pedro Gomes de Almeida
Astrónomo Amador e Gnomonista


Além dos astrolábios por vezes designados como clássicos outros foram aparecendo ao longo do tempo ou mantendo para a sua construção a chamada projecção estereográfica ou utilizando outro tipo como a projecção ortogonal.
Devido a certas alterações foi possível usar astrolábios em várias latitudes sem que para tal fosse necessário ter vários tímpanos em função das mesmas e assim apareceram os astrolábios de Rojas, de La Hire e talvez o mais conhecido o chamado astrolábio “Católico”.
Todos os astrolábios referidos possuem em comum uma certa complexidade de linhas e um grau elevado na densidade destas.
Há contudo um astrolábio bem simples conhecido por astrolábio Náutico ou astrolábio Português e cuja utilização foi, entre outros factores, fundamental para o êxito da navegação marítima no Atlântico e não só. Este tipo de astrolábio foi muito usado pelos navegadores portugueses que durante o chamado Período dos Descobrimentos cruzaram os então desconhecidos (na Europa) Oceanos Atlântico, Indico e Pacífico.
Tudo começou quando o quinto filho do rei de Portugal, D. João I criou a chamada Escola de Sagres, onde prepara os navegadores para essas viagens de descoberta de “Novos Mundos”.
É a construção de um barco de características oceânicas, a “Caravela Portuguesa” e a utilização do Astrolábio Náutico que permite aos navegadores, partindo de Lisboa, desbravar os chamados “Caminhos Marítimos” que vão de Lisboa ao Brasil, de Lisboa a toda a costa Ocidental e Oriental de África, à longínqua India, aos Mar da China e do Japão e chegarem a Timor.
“Caravelas” e “Astrolábios Náuticos” (juntamente com milhares de marinheiros anónimos) são os protagonistas dessa época, nos séculos XV e XVI, da primeira visão global do planeta Terra em que Fernão de Magalhães, português au serviço dos Reis Católicos de Espanha, comanda a primeira expedição que resulta na primeira e memorável “Viagem de Circum-Navegação”.

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Pedro Gomes de Almeida
Astrónomo Amador e Gnomonista


O Astrolábio é um instrumento científico cuja origem se situa por volta do IIº século A.C.
Ao longo de séculos foram-lhe introduzidas várias alterações que lhe conferiram uma evolução técnica assinalável tanto na vertente construtiva como no campo das suas aplicações. O Astrolábio perdurou, como instrumento utilizável, até ao século XVIII.
Alguns estudiosos destes temas dizem que este equipamento não é mais do que uma calculadora astronómica que permite determinar as horas do nascer e do pôr do sol ou de uma estrela, definir as suas posições, etc.
Havendo vários tipos de Astrolábios, o mais conhecido é o Astrolábio Planisférico em que as suas faces, frontal e posterior, apresentam várias funcionalidades.
O Astrolábio é constituído por um conjunto de peças designadas por: a Madre (mãe), os Tímpanos, a Aranha, o Ostensor, a Alidade, os Pinos e a Alça,
A Madre é a peça base na qual são instalados os outros componentes que podem ser fixos ou rotativos. Na face posterior encontramos escalas de vários tipos e uma peça móvel a Alidade.
No Astrolábio Planisférico o tipo de projecção usada é a chamada projecção estereográfica.
Existem Astrolábios de vários tipos todos eles muito ricos sob o ponto de vista artístico mas é a ciência e a técnica que eles enquadram que os torna equipamentos científicos excepcionais.

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Pedro Gomes de Almeida
Astrónomo Amador e Gnomonista


A hora e o horário são hoje termos comuns no dia a dia do Homem e são de tal modo presentes que marcam de forma intensa e por vezes violenta uma vida inteira, com reflexos negativos na saúde e na vida familiar deste.
Mas afinal o que é a “hora”?
Recuando no tempo podemos dizer que a forma primitiva de contar períodos mais curtos entre duas aparições consecutivas do sol no horizonte terá sido o dia e a noite. É porém, muito provável que a esta divisão uma outra se tenha seguido tal como: início do dia, meio do dia e fim do dia que terá levado a dizer-se também início da noite, meio da noite e fim da noite.
É contudo no Egipto e há mais de quatro milénios, que a Astronomia ainda nos seus primeiros passos, permite a divisão da noite em “horas”.
Foram os sacerdotes egípcios, que também eram astrónomos, que tiveram a ideia de dividir o céu em 36 partes de 10 dias cada (os decanos) e em que a cada uma dessas partes estava associada uma ou mais estrelas.
Pelo solstício de verão, quando da noite mais curta do ano, só doze decanos são observados. Talvez por isso a ideia de se conservar a observação de doze decanos ao longo do ano foi tida em conta. Não é pois de admirar que se encontre aí a origem das doze “horas” nocturnas ideia que terá estado na origem da divisão da parte diurna também em doze “horas”.
Esta divisão do período nocturno terá sido criada por volta de 2000 AC enquanto a divisão do período diurno andará por volta de 1500/1400 AC.
Esta graduação aparece numa peça em forma de um “L” deitado, que mais não é que o antepassado do Relógio de Sol, e que foi encontrado entre os objectos da zona tumular do Faraó Thoutmosis III.
Horas iniguais, horas itálicas, horas babilónicas e horas canoniais foram tipos de “horas” que perduraram por séculos.
É somente no século XIV que pela mão de Astrónomos Árabes as “horas” passam a ter intervalos temporais iguais.
Terá sido Ibn-Al-Shatir, matemático e astrónomo, que criou um relógio de sol cujo gnómon ou estilete era paralelo ao eixo da terra. Terá assim aparecido o (primeiro?) Relógio de Sol do tipo moderno.

Pedro Gomes de Almeida
Astrónomo Amador e Gnomonista


Os relógios de sol são, entre outros, instrumentos que o Homem utiliza para medir o tempo.
Mas afinal o que é o tempo? Isto faz-me lembrar uma “lengalenga” bem antiga que diz o seguinte:

“O tempo pergunta ao Tempo quanto tempo o Tempo tem e o Tempo responde ao tempo que o Tempo tem tanto tempo quanto tempo o tempo tem”

O Tempo será então uma entidade universal, abstracta, fugidia, com um só sentido? Na verdade estamos perante uma das maiores interrogações de resposta complexa e desconhecida. Na verdade o Tempo Passado já passou, o Tempo Futuro ainda não chegou e o Tempo Presente acaba apenas começa. Olhando o Tempo como o período em que um fenómeno dura, diremos que essa duração é o tempo de existência desse fenómeno.
É este último tempo que o Homem procura medir usando como padrão três movimentos astronómicos de observação directa: 1-A rotação da Terra, 2-A rotação da Lua em torno da Terra, 3-A rotação da Terra em torno do Sol.
Estes movimentos estão na origem dos vários tipos de calendários e são também e portanto a origem do dia, do mês e do ano. O começo da contagem de cada um destes tipos é totalmente arbitrária por parte dos povos que iniciaram a feitura dos primeiros calendários.
Agrupamentos como as estações do ano, as semanas ou as subdivisões do dia, foram efectuadas em função das regiões e dos conhecimentos de astronomia desses povos.
É na diversidade dos objectos de medir o tempo que podemos hoje ver a evolução da chamada “mão da ciência” ao longo da existência da Humanidade.

Pedro Gomes de Almeida
Astrónomo Amador e Gnomonista


Caçadores de Tesouros descobriram em 1999 artefactos que mais tarde se vieram a datar de 1600 anos AC mas cuja construção poderá ser anterior.
Entre esses artefactos está um disco em bronze com incrustações em ouro que tendo sido descoberto nas imediações de Nebra é conhecido por Disco de Nebra.
Foi em 2002 que as autoridades policiais da Suíça apreenderam o disco conjuntamente com outras peças da mesma época que remonta à Idade do Bronze.
Os estudos que sobre este disco foram feitos indicam tratar-se de um “calendário portátil” que permitiria ao Homem daquele tempo determinar o início das Estações do Ano mas também um rudimentar (não para a época) calendário de períodos mais curtos para as suas actividades talvez já de caracter social e/ou religioso.
É pois um calendário solar e lunar que mostra o grande conhecimento de Astronomia muitos séculos antes desta área da “ciência” também vir a ser dominada pelos povos da região babilónica.
A Astronomia Pré-Histórica cada vez mais nos faz recuar no tempo ao descobrir que o Homem já utilizava conhecimentos de astronomia dezenas de milhares de anos antes da nossa Era como provam os estudos muitos deles feitos nos “abrigos” usados pelo chamado Homem de Cro-Magnon existentes na zona da Dordogne em França.
Falaremos mais tarde deste último aspecto.

Pedro Gomes de Almeida
Astrónomo Amador e Gnomonista

PS: Ver Disco de Nebra na secção “Imagens”


De entre os impérios da Antiguidade um dos mais fascinantes é certamente o Império Egípcio. A monumentalidade das suas construções, a sua escrita e a ciência, em especial a Astronomia, tornaram este povo das margens do rio Nilo um motivo de estudos e de curiosidade sobre a sua vida quotidiana.
Um dos aspectos bem curioso é a divisão por este povo, talvez por influência babilónica, do período diurno em “horas” chamadas iniguais, pois na época “invernal” cada “hora” tem um “tamanho” bem diferente do mesmo período (horário) da época “estival”.
Estas “horas” eram indicadas por Relógios de Sol de vários modelos que se desenvolveram ao longo dos milénios da existência deste Antigo Império.
Um desses relógios de sol, que como muitos outros deste período tão recuado é do tipo portátil, é datado de meados do século IV A.C.
É designado como Relógio de Sol de El Qantara,(cidade do delta do rio Nilo). Existem vários modelos deste tipo de relógio de sol, um dos quais podemos observar numa réplica na secção “imagens” deste site.

Pedro Gomes de Almeida
Astrónomo Amador e Gnomonista


Na Antiguidade, uma das maiores criações do Homem foi o Scaphé que lhe permitia determinar o início dos grandes períodos de tempo a que chamamos as Estações do Ano assim como períodos diurnos para a sua organização pessoal ou da sua comunidade.
Podendo ter origem anterior, os primeiros Scaphés conhecidos datam de +/- 600 anos AC e apareceram na Grécia.
Este tipo de Relógio de Sol não é mais do que a representação material, num bloco de pedra da imagem invertida da Abóbada Celeste que o Homem observou durante milhares e milhares de anos.
É pois, nessa cavidade semiesférica que com o auxílio de um estilete com uma pequena esfera no seu extremo e colocado na vertical no fundo da cavidade apontado ao Zénite que a luz do sol produz uma sombra que se move ao longo dela desde o nascer até ao pôr do Sol.
A variação da altura do sol ao longo do ano também aí se torna visível.
No interior da cavidade e do seu lado Norte serão traçadas três linhas paralelas que irão indicar os Solstícios e os Equinócios que delimitam as chamadas Estações do Ano. Por outro lado, uma série de linhas curvas do tipo Meridianos irão indicar as chamadas “Horas Temporárias” ou “Horas Iniguais”.Estas “Horas” com períodos bem diferentes ao longo da ano, tem a sua origem no facto de o período diurno ser dividido em doze partes o que origina que no Verão essas “horas” são o dobro do tempo das mesmas “horas” no Inverno.
Este Scaphé teve variantes como o Scaphé Grego e o Scaphé Romano mas todos eles baseados no mesmo princípio.
Este tipo de Relógio de Sol perdurou aproximadamente por um milénio.
(Na secção Imagens deste site poderá ver este tipo de R.S.)

Pedro Gomes de Almeida
Astrónomo Amador e Gnomonista


Numa roda de amigos e à volta de uns bons cafés, veio à baila um Património que, aqui no extremo da Europa, é pouco conhecido e muito menos valorizado. Falo do Relógio de Sol. Entre os vários comentários houve um que me levou a escrever estas linhas.

Alguém dizia, que nos tempos actuais, não fazer sentido falar ou estudar o tema dos Relógios de Sol, pois eram coisas muito desactualizadas e cujas informações por eles dadas já não faziam sentido nesta época dos relógios altamente especializados e de precisão absolutamente incrível. Pensei, pois, em quantas coisas estão desactualizadas mas que são etapas importantes da História do Homem.

Tudo indicava, nos finais do século XIX, que o Relógio de Sol seria eventualmente “Peça de Museu” (o que em parte é verdade e ainda bem). Mas afinal o que vemos, a partir do início do século XX, é como que um renascer do Relógio de Sol pela mão de eminentes matemáticos e de excelentes gnomonistas. Formas e técnicas inovadoras deram ao Relógio de Sol uma nova vida absolutamente imprevista. Vejamos um exemplo admirável (outros há).

Um escultor que nos seus trabalhos usa por vezes pregos, inspira um gnomonista para a realização de um Relógio de Sol de tipo inédito. Nada mais nada menos do que um Relógio de Sol, por que não, feito com pregos. O agradável choque que senti foi tal que procurei eu próprio fazer uma maquete deste extraordinário tipo de Relógio de Sol.

Remeto, portanto, o leitor para a página deste site “relógios de uma colecção” onde está uma foto dessa maquete que tanto gosto me deu a realizar.

Pedro Gomes de Almeida
Astrónomo Amador e Gnomonista


O primeiro aspecto a ter em conta no que respeita aos Relógios de Sol a construir nas zonas do hemisfério sul é a orientação do estilete que, continuando a ser paralelo ao eixo de rotação da Terra, aponta no sentido do Sul geográfico, que ao contrário do que acontece no hemisfério norte, não tem visível qualquer estrela de referência que permita localizar com grande aproximação o Polo Sul geográfico. É pois através da constelação do Cruzeiro do Sul que essa localização é obtida com uma aproximação que obriga a um certo número de correcções.
Um outro aspecto interessante dos relógios de sol do hemisfério sul é que para lugares situados a sul do Trópico de Capricórnio o sol culmina sempre a Norte.
De notar também que nos Relógios de Sol utilizados no hemisfério sul a posição das linhas horárias (ao contrário do que se passa no hemisfério norte) aparecem deslocadas, com as horas da manhã situadas à direita e as horas da tarde situadas à esquerda (notar que o observador, perante o relógio de sol, está virado a sul).
Uma pequena observação no que respeita aos Relógios de Sol Analemáticos.
Quando estes se situam progressivamente mais próximos da linha do Equador a leitura dos mesmos apresenta cada vez mais dificuldades pois o achatamento da elipse destes é progressivo tomando a forma de uma linha recta quando situado sobre o Equador.


Pedro Gomes de Almeida
Astrónomo Amador e Gnomonista



É nos primeiros anos de escola que ouvimos falar de Equador, Trópico de Câncer e de Trópico de Capricórnio como “linhas” que separam zonas importantes do nosso planeta Terra.
Tudo isto vem a propósito da influência que elas têm no desenho de relógios de sol calculados para serem utilizados nesses locais.
Se quem habita a norte do Trópico de Câncer, o desenho de um relógio de sol horizontal para essa região lhe parece normal e por que não universal, ficará certamente admirado pelo aspecto que esse mesmo relógio de sol terá para ser utilizado entre o Equador e o Trópico de Câncer ou sobre a “linha” do Equador ou ainda em qualquer das duas zonas geográficas entre o Equador e o Pólo Sul.
Convém aqui recordar que o termo Zénite indica o ponto mais alto da Esfera Celeste Local e que por tanto se situa por cima da cabeça de um observador do lugar.
Se para o tal relógio de sol horizontal considerarmos a zona acima do trópico de Câncer as linhas horárias deste são bem definidas e o Sol ao meio-dia situa-se sempre a Sul do observador. Se o relógio é feito para a latitude do Trópico de Câncer as linhas horárias deste continuam bem definidas mas é de notar que o Sol nesta latitude, uma vez por ano e ao meio-dia, atinge o Zénite.
A aproximação do relógio de sol horizontal ao Equador começa a originar dificuldade de leitura nas horas próximas do meio-dia pelo facto dessas linhas ficarem cada vez mais cerradas. Nestas latitudes o Sol passa duas vezes por ano pelo Zénite do lugar.
É pois preferível, para latitudes muito próximas do Equador a Norte ou a Sul deste, deixar de usar o relógio de sol horizontal e utilizar um relógio de sol do tipo equatorial de leitura muito mais fácil. O “mostrador” deste relógio de sol apresenta nestes casos um grande ângulo com o solo tomando a posição vertical quando se encontra exactamente sobre o Equador
Em breve veremos o caso de relógios de sol a utilizar no Hemisfério Sul.


Pedro Gomes de Almeida
Astrónomo Amador e Gnomonista


É sobejamente conhecida a qualidade técnica, científica, artística e de pensamento de uma elite numerosa no seio do povo grego durante o período áureo desta civilização na Antiguidade.
Tudo isto se verifica no grande legado que nos chega desses tempos longínquos e são essas características que podemos observar numa construção que data por volta de 50 AC.
A sua forma é a de um prisma octogonal encimado por uma cobertura de forma piramidal e esta de altura bastante reduzida. O seu construtor, de nome Andronikos de Kyrrhos astrónomo de origem macedónica, escolheu o mármore para erigir este edifício que possui três características muito interessantes.
Abrigava no seu interior uma clepsidra, também conhecida por relógio de água, que indicava a hora quando a não existência de um sol brilhante nos céus de Atenas impedia a mesma de ser vista em alguns dos oito relógios de sol existentes no edifício um por cada face.
Todo o edifício tinha na sua zona superior um belo friso constituído por oito figuras antropomórficas representando os oito ventos dominantes desta região grega. É pois em consequência deste friso que esta torre de inúmeros relógios é conhecida por TORRE dos VENTOS.
Essas oito figuras correspondem a:
Vento de Norte-Boreas-Vento frio e violento de Inverno-Representado por um velho que sopra um búzio produzindo um ruido característico.
Vento de Nordeste-Kalkias- Vento destrutivo-Representado por um velho com uma cesta cheia de granizo que lança no espaço.
Vento de Este-Apeliotis-Vento de Outono que traz os frutos e os cereais- Representado por um jovem carregando estes produtos.
Vento do Sudeste-Evros-Vento funesto que transporta color e chuva- Representado por um homem maduro com uma vasilha para descarregar chuva.
Vento do Sul-Notos-Vento quente do final do Verão que traz tempestade e que pode levar à perda das colheitas- Representado por um jovem despejando água de uma vasilha.
Vento do Sudoeste-Lips-Vento bom para navegar-Representado por um jovem na proa de um barco soprando as velas.
Vento do Oeste-Zephiros-Vento suave que anuncia a Primavera-Representado por um jovem com pouca roupa e oferecendo flores.
Vento do Noroeste-Skirion- Vento que anuncia o Inverno- Representado por um homem barbudo com um vaso cheio de carvão em brasa.

Pedro Gomes de Almeida
Astrónomo Amador e Gnomonista


Um pequeno restauro que efectuei num relógio de sol canonial da minha colecção construído há um bom par de anos levou-me a dar uma vista de olhos por um artigo que publiquei no meu site (na altura com outro formato) sob o título PATRIMÓNIO ESQUECIDO e que achei ser de tornar a publicar pois creio que haverá em Portugal igrejas, mosteiros, conventos ou casas de religiosos que terão nas suas paredes relógios de sol do tipo “canonial” ou vestígios dos mesmos cujo interesse em divulgar e preservar me parece inquestionável.
É na Europa que o Relógio de Sol dito CANONIAL domina praticamente toda a organização do tempo durante perto de um milénio.
A disseminação do Cristianismo pela Europa Ocidental, em especial a partir do final do século IV, como religião oficial do Império Romano, é um facto indesmentível. Esta expansão do Cristianismo não é interrompida pelo fim do Império Romano do Ocidente como resultado da chamada Invasão dos Bárbaros mas pelo contrário parece que a mesma acelerou essa expansão. O aumento das Igrejas e dos Mosteiros é notória.
É nos mosteiros que encontramos clérigos e estudiosos num tipo de vida austera toda ela dedicada à oração, ao trabalho manual e ao estudo das ciências e das artes dessas épocas. Para tal o dia monástico é dividido em períodos bem expressos e com tarefas bem definidas na respectiva “Regra Monástica”.
É também por volta do século V e século VI que aparecem sinos em campanários e cujo toque indica a hora desta ou daquela oração ou deste ou daquele ofício religioso na igreja ou Mosteiro das redondezas. A vida da sociedade começava então a ser organizada em função destes sons de chamada da população às orações diárias.
O relógio canonial é caracterizado por um círculo dividido em oito sectores dos quais na maior parte só quatro são representados e correspondem ao período diurno. Em alguns casos estes quatro sectores diurnos aparecem com divisões suplementares.
Mas voltando à divisão de base vejamos como eram designados e a que correspondiam:

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Matinas ou Vigílias – A meio da noite
Laudes – Pela Aurora
Prima – 1ª hora depois do nascer do sol
Terça – 3ª hora depois do nascer do sol
Sexta – Fim da manhã
Nona – Meio da tarde
Vésperas – Ao cair da noite
Completas – Entre o cair da noite e o deitar

É de ter em conta uma certa irregularidade destes espaços de tempo pois o período diurno e nocturno são, nas várias latitudes, de duração variável.
A partir do século XI e até ao século XIV as horas canoniais foram-se deslocando (devido à organização da vida social) pouco a pouco para o período da manhã de tal modo que a Nona Hora passou a indicar o Meio-Dia.
É por meados do século XII que aparecem na Europa os primeiros relógios mecânicos que, contudo, não impedem o desenvolvimento do Relógio de Sol.
Muitas dessas horas da Idade Média perduraram até aos nossos dias e inspiraram grandes artistas. Vejamos o belo quadro de Jean-François Millet de 1858. Fim de tarde e um sino longínquo chama à oração. É o Angelus.
Também na tradição popular ficou algo dessas horas canoniais. Quem não se lembra da expressão: “fulano chegou a casa às tantas da matina”.
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Horas canoniais, outras horas, outros tempos.

Pedro Gomes de Almeida
Astrónomo Amador e Gnomonista


É certamente na última metade do século XIX e o primeiro quartel do século XX que o relógio de sol portátil sofre uma brusca queda no seu uso, sendo substituído cada vez mais pelo relógio mecânico de bolso e depois de uma forma mais rápida pelo chamado relógio de pulso.
É em virtude dos cada vez mais baixos preços destes novos medidores do tempo que torna estes acessíveis à quase totalidade da população.
De entre estes “últimos” relógios de sol portáteis incluímos um do tipo Horizontal constituído por dois blocos de madeira ligados por uma espécie de dobradiça e que ainda incluía uma pequena bússola para uma orientação mais
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fácil na procura do meridiano do lugar, necessário para uma boa determinação das horas.
Era o tempo das horas e das meias-horas. O tempo dava para tudo. Hoje o tempo é dos minutos e dos segundos e vendo bem não dá para quase nada.
Um desses “últimos” relógios de sol produzidos em Portugal tem na sua face superior (quando fechado) o nome do seu construtor JOÃO DA SILVA.
Nota: E para que não haja dúvidas está lá bem escrito VERDADEIRO AUTOR

Pedro Gomes de Almeida
Astrónomo Amador e Gnomonista



Tudo indica que os primitivos humanos tenham usado a sombra de uma árvore, de uma rocha ou de uma vara para em função do comprimento da sombra destas terem uma ideia do início dos períodos do ano importantes para a sua própria vida ou do seu grupo.
Foram as Civilizações emergentes, chamadas “Dos Grandes Rios”, tais como o Nilo, Tigre e Eufrates, Indo, Yangtze e Huang He, que tendo sociedades cada vez mais complexas utilizaram essa variação da sombra (diária e anual) para coordenar melhor a sua organização durante o dia ou em períodos bem maiores como aqueles a que hoje chamamos estações do ano.
Uma das civilizações da qual mais informações temos é a Civilização Egípcia. A variedade de artefactosque, de diversas épocas, chegaram até nós indicam a importância que esses períodos temporais, a que podemos chamar horas, tinham para esse povo.
A esses artefactos que podemos designar por Relógios de Sol, de construção mais ou menos empírica, já existiam no Egipto bem antes do século XVI A.C.
É contudo no 3º século A.C. que um sacerdote de origem Caldaica a viver no Egipto cria um relógio de sol de características inovadoras.
Num bloco de pedra constrói uma cavidade semi-esférica (a imagem invertida da abóbada celeste) em que na parte central coloca um “gnómon” vertical cujo extremo produz uma sombra que se desloca por essa cavidade de acordo com o movimento diurno aparente do disco solar.
É o início de uma nova Era para o Relógio de Sol cuja difusão, em especial na Bacia Mediterrânica, se torna imparável.

Imagens de Relógios de Sol do Antigo Egipto
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Pedro Gomes de Almeida
Astrónomo Amador e Gnomonista


Já lá vai o tempo em que o nascer e o pôr-do-sol determinava a vida do Homem. As noites com todos os seus mistérios, medos e seus perigos eram destinadas ao repouso do corpo e, por certo, à agradável tarefa de aumentar o agregado familiar, fundamental nessas épocas recuadas em que o desenvolvimento se fazia ao calmo ritmo dos dias e dos anos. A evolução contudo não para e é o Relógio de Sol que define cada vez com mais precisão as tarefas do Homem na sua vida social, política, laboral e económica mas com isso o “Relógio Biológico” não sofre praticamente qualquer impacto negativo.
O Tempo e os Horários do quotidiano ainda não eram, nesses tempos recuados, os fortes Ditadores em que se tornaram nos Tempos Modernos.
O Homem na sua cega actividade de um progresso rápido e desordenado não para de provocar o Destino.
As por vezes significativas alterações horárias (quase sempre ligadas às actividades laborais), levarão certamente ao colapso do “Relógio Biológico” pondo em causa a sobrevivência da Espécie Humana.
Segundo se pensa, foi um gigantesco asteroide que esteve na origem do desaparecimento dos dinossauros que viveram neste planeta Terra por milhões de anos. Não é um asteroide mas sim uma certa e repetida incúria do Homem que põe em risco esta Espécie que Nós somos.
A alteração das horas sem acautelar o chamado Relógio Biológico é mais um prego na Caixa Final onde o Homem voluntariamente se mete.
Que inveja eu tenho dos tempos do Relógio de Sol

Pedro Gomes de Almeida
Astrónomo Amador e Gnomonista


De entre todas as formas sob as quais se apresentam os relógios de sol há uma que pelo seu aspecto inesperado e até de certo modo bizarro chama a atenção de quem o vê ou sabe da sua existência.
É em meados do ano de 1755, durante uma prospecção arqueológica em Itália mais propriamente em Portici (hoje englobada na grande metrópole que é a cidade de Nápoles), que é encontrado um relógio de sol, construído em bronze, que data do primeiro quartel do século I da nossa Era.
Até aqui nada de extraordinário não fosse o aspecto que apresenta, a muito bem elaborada forma de um presunto e ainda com a extraordinária e a não menos usual presença da cauda (rabo) do porco que lhe irá servir de Gnomon ou Estilete. É, pois sem surpresa que este estranho relógio de sol seja designado por Jambon de Portici.
As horas nele assinaladas são as “Horas Iniguais” em uso na época.
É de notar que o plano do relógio é vertical e a face virada ao sol é a lateral mais perto do Gnomon.
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Pedro Gomes de Almeida
Astrónomo Amador e Gnomonista

(Fico sempre surpreendido pela ou pelas mais variadas informações que um R.S. contêm)